Mulher lendo rótulos e escolhendo produtos na farmácia. Disruptores endócrinos

Nesse artigo você vai encontrar informações sobre os disruptores endócrinos e como evitar esses ingredientes que prejudicam a pele.

 

Sistema Endócrino 

O sistema endócrino é um sistema de comunicação no corpo humano que controla muitas funções importantes através dos hormônios. Imagine-o como uma rede de mensageiros que transmitem instruções para diferentes partes do corpo. Funciona assim: As glândulas endócrinas, como a tireoide, a hipófise e as adrenais, produzem hormônios e os liberam na corrente sanguínea. Esses hormônios viajam pelo corpo e se conectam a receptores em células-alvo, onde dizem às células o que fazer. Por exemplo, hormônios podem controlar o crescimento, metabolismo, reprodução e até mesmo emoções.   

 

Você já ouviu falar sobre os Disruptores Endócrinos? 

Os disruptores endócrinos (também conhecidos como: desreguladores ou interferentes endócrinos) podem confundir o sistema, imitando ou bloqueando a ação dos hormônios naturais. Isso pode levar a desequilíbrios hormonais e problemas de saúde. Essas substâncias podem ser encontradas em uma variedade de produtos de uso diário como: cosméticos, produtos de higiene pessoal, alimentos embalados, pesticidas e plásticos.  Sendo assim, existe relação entre disruptores endócrinos e a saúde da pele. Há evidências sugerindo que a exposição a essas substâncias pode contribuir para uma série de problemas de pele.  A cada dia aumentam as pesquisas sobre esse tema e ainda se faz necessário aprofundar os estudos sobre essas substâncias. Porém, compreender como os disruptores endócrinos afetam a saúde humana é difícil por várias razões: há uma variedade muito grande de produtos químicos diferentes que são suspeitos de serem disruptores endócrinos, sem contar que têm propriedades diversas, sendo um obstáculo para mapear todos e estudá-los individualmente. Além disso, estamos constantemente expostos a vários desses produtos químicos ao mesmo tempo, o que torna complicado isolar e determinar os efeitos de cada um separadamente. Adicionalmente, esses produtos tem efeito cumulativo, se acumulam na gordura do nosso corpo ao longo do tempo interagindo e reagindo entre si de maneiras que ainda não se compreende completamente.    

 

Somente a exposição a grandes quantidades aos disruptores endócrinos pode causar problemas de saúde?

Ainda não se sabe estimar qual a quantidade necessária de desreguladores endócrinos para causar danos à saúde humana. Entretanto, estudos apontam que quantidades mínimas já teriam a capacidade de serem perigosas.    

 

Como acontece a exposição/contato com os desreguladores endócrinos?

A maioria dos desreguladores endócrinos são absorvidos pela via digestiva. Mas, eles também podem nos contaminar através do ar e da pele, serem transferidos da mãe para o feto durante a gestação ou da mãe para o filho durante a amamentação. Maneiras comuns de se expor a essas substâncias são: contato com água, solo ou alimentos contaminados (ex: pesticidas usados na agricultura), contato com produtos industriais (ex: embalagens plásticas, revestimento interno de latas), uso de garrafas ou copos plásticos, bicos de mamadeira, uso de produtos de beleza ou higiene pessoal (ex: maquiagem, esmalte, hidratante, protetor solar, xampu, protetor solar), tubulações de ar condicionado, etc. Nos trabalhadores da indústria e da lavoura e moradores de áreas contaminadas, a exposição se dá pelo manuseio, inalação ou ingestão dos produtos contaminados.  

 

Veja os Disruptores Endócrinos mais comuns: 

Ftalatos: Encontrados em produtos de cuidados pessoais, como perfumes, loções, sabonetes, esmaltes de unha e produtos de limpeza doméstica, vernizes e inseticidas. Eles também podem estar presentes em plásticos flexíveis, como embalagens de alimentos e brinquedos.  Bisfenol-A (BPA): Presente em plásticos duros, como garrafas de água reutilizáveis, recipientes de alimentos, revestimentos internos de latas de alimentos, revestimento de recipientes térmicos e resinas epóxi.  Parabenos: Utilizados como conservantes em uma variedade de produtos cosméticos e de cuidados pessoais, como cremes, loções, maquiagem e produtos para o cabelo.  Triclosan: Encontrado em sabonetes antibacterianos, cremes dentais, desodorantes e outros produtos de higiene pessoal.  Fenóis: Presentes em produtos de limpeza doméstica, desinfetantes, desodorantes e plásticos.  Pesticidas: Alguns pesticidas agrícolas contêm substâncias químicas que podem atuar como disruptores endócrinos quando presentes em nossa cadeia alimentar.  Retardadores de chama bromados: Utilizados em produtos eletrônicos, estofados, carpetes e materiais de construção.  Ftalatos de alta massa molecular (HMW): Encontrados em plásticos duros, produtos de PVC, adesivos e revestimentos.  Organofosfatos: Presentes em alguns pesticidas agrícolas e produtos de controle de pragas domésticas.  Perfluorados: Utilizados em revestimentos antiaderentes, embalagens de alimentos, tecidos impermeáveis e produtos de cuidados pessoais.   DDT, Metiran, Dieldrin, Paration: presente em pesticidas, herbicidas e fungicidas.   Benzeno: presente em gasolina, removedor, thinners   Chumbo: presente em baterias, primmers, tintas, pigmentos   Cádmio: presente em estabilizantes de plásticos, baterias e pigmentos   Mercúrio: presente em rios contaminados por garimpo, tintas, agrotóxicos   Estireno: presente em copos de plástico descartáveis   

 

Qual a influência dos disruptores endócrinos na pele?

A disfunção hormonal causada por disruptores endócrinos pode alterar a síntese de colágeno e elastina, proteínas fundamentais para a firmeza e elasticidade da pele. Além disso, pode induzir ao aumento de mediadores inflamatórios que prejudicam a integridade da pele e promovem o envelhecimento precoce ou condições inflamatórias. A resposta imunológica da pele também pode ser afetada pelos disruptores endócrinos. O sistema imunológico cutâneo é responsável por reagir a infecções e inflamações, além de regular a reparação celular. Disruptores endócrinos, como o triclosan e os ftalatos, podem alterar a função das células do sistema imunológico da pele, comprometendo sua capacidade de combater patógenos e inflamações. Essa alteração na resposta imunológica pode resultar em inflamações crônicas, alergias cutâneas e exacerbações de condições como eczema e dermatite de contato. A inflamação prolongada também está associada ao desenvolvimento de doenças autoimunes e à aceleração do envelhecimento cutâneo. Pessoas com exposição prolongada a ftalatos também exibem uma maior prevalência e gravidade de dermatite atópica. A pele é uma barreira responsável por nos proteger contra agressões externas e prevenir a perda de água. Substâncias como o BPA e o triclosan podem causar desequilíbrio na hidratação da pele,  desencadear irritações, alergias ou sensibilidade excessiva na pele resultando em uma maior susceptibilidade à desidratação, irritações e infecções cutâneas. Parabenos, fragrâncias artificiais e metais pesados podem desencadear irritações, alergias ou sensibilidade excessiva na pele, especialmente em pessoas com pele mais delicada ou predisposição a alergias. Condições associadas: Dermatite de contato, eczema, alergias cutâneas. Exposição a bisfenóis e triclosan também está relacionada ao aumento da incidência de distúrbios pigmentares na pele, como hiperpigmentação. Condições associadas: Melasma, hiperpigmentação pós-inflamatória. Ftalatos e parabenos, podem alterar os níveis hormonais responsáveis pela produção de sebo (oleosidade da pele). O aumento da produção de sebo pode levar ao entupimento dos poros e ao desenvolvimento de acne. Condições associadas: Acne e rosácea. Bisfenol A (BPA) e os ftalatos afetam o equilíbrio hormonal feminino, podendo causar alterações no ciclo menstrual. Essas alterações hormonais, por sua vez, podem desencadear problemas dermatológicos como acne e aumento da oleosidade da pele, especialmente em adolescentes e mulheres na fase reprodutiva. Condições associadas: Acne hormonal.  

 

O que fazer para evitar a exposição aos desreguladores endócrinos?

  • Reduza o uso de cosméticos e maquiagens com ingredientes duvidosos. Verifique os rótulos dos produtos. Prefira cosméticos rotulados como “livres de parabenos”, “livres de triclosan”.
  • Opte por cosméticos e cuidados de pele mais naturais e orgânicos, que geralmente não contêm esses ingredientes.
  • Escolha produtos sem fragrância ou com fragrâncias naturais (como óleos essenciais). Evite perfumes e colônias que não especificam os ingredientes, pois podem conter substâncias tóxicas.
  • Escolha sabonetes sem aditivos antibacterianos.
  • Evite consumir alimentos ou bebidas que venham em embalagens plásticas, especialmente quando aquecidos, já que o BPA pode se soltar com o calor. Use recipientes de vidro, inox ou plástico livre de BPA para armazenar alimentos e bebidas
  • Prefira alimentos orgânicos, que são cultivados sem o uso de pesticidas sintéticos e/ou lave bem frutas e vegetais convencionais para reduzir a chance de exposição aos resíduos de pesticidas.
  • Prefira roupas de algodão orgânico, linho ou outros tecidos naturais. Lave roupas novas antes de usá-las para reduzir a possível exposição a substâncias químicas.
  • Se possível, utilize produtos de limpeza ecológicos, livres de cloro e outros químicos agressivos. Considere sempre utilizar ingredientes simples, como vinagre, bicarbonato de sódio e óleos essenciais.

  Escolha os produtos de forma consciente! Esteja atento aos disruptores endócrinos. Inclua o uso de cosméticos e tratamentos dermatológicos naturais, com foco em restaurar a barreira cutânea, modular a inflamação e proteger a função imunológica da pele.  

 

Escrito por: Carla Guedelha – Enfermeira Dermatológica – COREN/SC 524.790

 

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Fontes:

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM  https://www.niehs.nih.gov/health/topics/agents/endocrine  Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP  Silva KM, Almeida JN, Martins AS, Medeiros JL de, Jorge VCF, Lima F de AR, Sousa ABG da S, Borges EC, Chaves MC, Ernesto PBT, Gadelha. ALDV, Farinha MFG, Pinheiro MN da S, Brasileiro LF. A INFLUÊNCIA DOS DISRUPTORES ENDÓCRINOS EM CONDIÇÕES DERMATOLÓGICAS. Braz. J. Implantol. Health Sci. [Internet]. 25º de janeiro de 2024 [citado 7º de novembro de 2024];6(1):1841-6. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1339 Heindel, J. J., Blumberg, B., Cave, M., Machtinger, R., Mantovani, A., Mendez, M. A., … & Zoeller, R. T. (2017). Metabolism disrupting chemicals and metabolic disorders. Reproductive Toxicology, 68, 3-33.  Zoeller, R. T., Brown, T. R., Doan, L. L., Gore, A. C., Skakkebaek, N. E., Soto, A. M., … & Vom Saal, F. S. (2012). Endocrine-disrupting chemicals and public health protection: a statement of principles from The Endocrine Society. Endocrinology, 153(9), 4097-4110.  Gore, A. C., Chappell, V. A., Fenton, S. E., Flaws, J. A., Nadal, A., Prins, G. S., … & Zoeller, R. T. (2015). EDC-2: The Endocrine Society’s Second Scientific Statement on Endocrine-Disrupting Chemicals. Endocrine Reviews, 36(6), E1-E150.